Diretor financeiro e CEO da empresa ENERGIAS, Alexandre Sedlacek Moana, fala com a APCER Brasil sobre crise hídrica/energética e a ISO 50001.
Os recentes baixos e alarmantes níveis dos reservatórios das usinas hidrelétricas – que corresponde a cerca de 70% da geração de energia elétrica, segundo dados do Balanço Energético Nacional – demonstraram a dependência dos brasileiros dessa fonte energética, que resultou em aumentos exorbitantes na conta de energia, trazendo prejuízos para organizações de diversos setores.
Tais tipos de crises não podem ser previstas e não estar preparado interfere na continuidade do negócio de uma organização. A implementação da ISO 50001-Sistema de Gestão de Energia, e sua certificação por um Organismo acreditado, possibilita a redução de consumo energético sem impor a redução da produção, promovendo a eficiência energética dentro da organização, reduzindo custos e impulsionando a utilização de fontes de energias alternativas e renováveis.
Mestre em Engenharia da Energia, diretor financeiro e ex-pesidente da Associação Brasileira das Empresas de Serviços de Conservação de Energia (ABESCO) e CEO da empresa ENERGIAS, Alexandre Sedlacek Moana, conversou com a APCER Brasil sobre a norma ISO 50001 e a crise hídrica/energética brasileira.
Leia a entrevista na íntegra:
APCER – Qual a importância da certificação ISO 50001 para as empresas?
Alexandre Sedlacek Moana – Como toda certificação, é uma sinalização ao mercado da competência da empresa. Sua implementação pode abrir novas possibilidades de negócios, além do benefício interno de melhoria dos processos e, no caso da 50001, tem a conhecida importância dos meios energéticos e sua eficiência envolvidos.
APCER – Implantar um sistema de gestão de energia com a ISO 50001 pode ajudar empresas a driblarem a crise hídrica e energética?
Alexandre Sedlacek Moana – Driblar não, mas pode certamente auxiliar no controle e melhor adequação nesse contexto.
APCER – Há como especular um cenário atual diferente no país se mais empresas fossem certificadas com a ISO 50001?
Alexandre Sedlacek Moana – Sim, quanto mais qualidade na gestão e padronização das empresas, mais se espera um melhor desempenho delas.
APCER – Empresas que reduzem o consumo energético e certificação da ISO 50001 aumentam a credibilidade no mercado? De que forma?
Alexandre Sedlacek Moana – Sim, sem dúvida. Se uma empresa tem a conhecimento dos seus energéticos e os otimiza, ela certamente mostra uma competência e, por sua vez, gera confiabilidade. Tudo isso culmina em desempenho melhorado tanto nos negócios como na gestão dos processos internos.
APCER – Cidades como São Paulo sofrem com enchentes todo verão e com crise hídrica em outras estações. Haveria uma maneira assertiva de canalização que resolvesse ambos problemas?
Alexandre Sedlacek Moana – Muitos desses problemas são condições da natureza, que sempre podemos atenuar seus efeitos com mais infraestrutura. A questão é que, muitas vezes, a urbanização se dá de maneira desorganizada ou com atuação ilegal de quem edifica, e isso torna essa tarefa custosa, não podendo ser atendida na alocação limitada de recursos públicos.
APCER – Qual caminho o Brasil deve percorrer para diminuir a dependência da energia hidráulica?
Alexandre Sedlacek Moana – Hoje, a solução mais rápida e barata são os combustíveis fósseis. E, em muitos casos, é a única solução real. Claro que os malefícios são conhecidos, e por mais que tenhamos a entrada das fontes mais limpas, o Brasil, e podemos ampliar para o mundo todo, ainda são e serão muito dependentes dos combustíveis fósseis.
APCER – Quais fontes alternativas de energia seriam viáveis para o Brasil, baseando-se no seu estilo de consumo?
Alexandre Sedlacek Moana – Todas são viáveis, ao menos das mais conhecidas, solar térmico, solar fotovoltaico, eólicas, biomassa. O que acontece é que muitas delas são interruptivas, e a base de segurança delas ou são as hidráulicas ou as gerações com base em combustíveis fósseis.
APCER – Um sistema de gestão de energia que reduza e otimize o consumo pode trazer quais benefícios ambientais?
Alexandre Sedlacek Moana – Os benefícios ambientais diretos são a redução dos recursos utilizados pelosos sistemas de geração, transmissão e distribuição. Dependendo das matrizes, temos os benefícios da redução da emissão dos gases de efeito estufa, redução de gastos em infraestrutura e aumento da competitividade produtiva nacional.
APCER – O investimento em um processo de melhoria contínua com a ISO 50001 é compensado com otimização e redução de consumo?
Alexandre Sedlacek Moana – Sem dúvida, os estudos mostram que o investimento em organização, capacitação e eficiência, na maioria das vezes, reverte rapidamente em aumento de produtividade e lucratividade para as empresas.
APCER – Quais hábitos são alterados dentro de uma empresa após a implementação da ISO 50001?
Alexandre Sedlacek Moana – Processos outrora desconhecidos ou mesmo pouco estudados ganham foco. A partir disso, melhores procedimentos são instalados ou outros aperfeiçoados. Isso cria novas normas internas e a extinção de hábitos prejudiciais ao desempenho da organização.