Na oportunidade, Lino comentou sobre como a ISO 9001 auxilia no processo de implementação de práticas ESG em uma organização.
A ISO 9001 – Sistema de Gestão da Qualidade – é a norma de sistema de gestão mais utilizada no mundo. Com foco no cliente e na melhoria contínua dos processos da organização, possibilita reduzir custos, acessar novos mercados e, também, servir de base para implementar práticas ESG (Environmental, social, and corporate governance, em português, ambiental, social e governança).
Para falar mais sobre o assunto, a APCER Brasil conversou com o Antônio Lino, engenheiro mecânico com mais de 50 anos de experiência na área da Qualidade e presidente da Associação Brasileira de Controle da Qualidade (ABCQ), onde entrou em 1988 como diretor.
Leia a entrevista na íntegra:
APCER – Como a ISO 9001 pode auxiliar na implementação de práticas ESG?
Antônio Lino – Bom, o ESG, a parte ambiental, social e governança corporativa são as bases de sustentação da sustentabilidade. Uma empresa que quer se manter ao longo do tempo sustentável e possa crescer sem ter problemas de oscilação muito grande. Isso, na verdade, é uma questão de decisão de gestão da alta direção da empresa, que define políticas e quer aplicá-las. A ISO 9001 não fala sobre isso, mas ela ajuda muito na parte de implementação. Porque políticas tem que ser colocadas em prática, através de procedimentos, treinamentos, e a ISO 9001 tem todos os elementos básicos de processos, de procedimentos, de treinamento, para poder ancorar isso. Então, A ISO 9001 ajuda no sentido de colocar isso em prática.
APCER – Que melhorias a ISO 9001 pode trazer para uma organização?
Antônio Lino – As melhorias numa organização vão acontecer por gestão da alta direção da empresa. Colocando definições, metas e recursos, mas novamente, a ISO 9001 ajuda na parte de implementar, porque essas políticas não vão funcionar se não tiver um envolvimento de todos os funcionários. A ISO se caracteriza por definição de processos, por revisão dos processos quando há melhorias, como essa no sentido ser mais dinâmico, mais enxuto, com menos custos, mais efetivo pro cliente. Esses processos também são, de alguma forma, implementados, colocados em prática através de procedimentos, treinamentos, normas internas, regras, que a ISO tem esse foco de como estruturar um processo. E também, no sentido de criar controles que a gente tem pra que esses processos continuem sendo efetivos, que indicadores que a gente pode medir para poder garantir que essas melhorias caminhem e vão pra frente, metas, coisas que estão dentro do escopo da norma ISO e fazem parte da certificação. Na certificação, além de ter as práticas do dia a dia, tem as auditorias, tanto as internas como as auditorias dos órgãos de certificação, que, na verdade, o nome certo é órgãos de avaliação da conformidade, que fazem visitas periódicas, avaliam que as coisas estão acontecendo, quando tem desvios tem que realizar ações corretivas. A certificação, então, tem todo um arcabouço de ferramentas que ajudam a manter isso em prática, que as coisas evoluam e também que as coisas sejam transparentes para que a direção tenha uma visão do que está acontecendo na realidade – sem estar baseado em argumentos ou algum tipo de narrativa que alguém pode estar colocando, torna a coisa mais objetiva.
APCER – Como a ISO 9001 incentivou no desenvolvimento de outras normas de Sistema de Gestão?
Antônio Lino – Primeiro, pela amplitude que ela teve, de ser lançada, justamente, durante a globalização, aumento do comércio internacional por todos os países, e a ISO 9001 se tornou um cartão de visitas da empresa, se ela está seguindo essa norma ela dispensa muitas avaliações, pois é de conhecimento que tem todos os mecanismos e também tem auditorias etc. Isso foi uma coisa muito importante e viabilizou outras normas também, porque essa parte de certificação tornou-se no mundo uma coisa muito mais conhecida e credível. Além disso, a norma ISO 9001 é a base para tudo, com a definição de procedimentos, indicadores e processos, as outras normas se enquadram nisso, todas as normas têm a parte de gestão comum, elas possuem especificidades, por exemplo, a ISO 14001, Sistema de Gestão Ambiental, possui todo esse aspecto de controle de meio ambiente e legislação aplicável, mas ela também possui a parte de procedimentos, auditorias, indicadores, que a ISO 9001 já tem, ela serve como base para as outras normas.
APCER – Por que a ISO 9001, apesar de ser pioneira, nunca entra em desuso?
Antônio Lino – Como dito na outra questão, é a base para outras normas, então, eu não posso tirar ela do sistema porque ela que é fundamental. Muitos setores trouxeram incrementações na ISO 9001 colocando normas setoriais, por exemplo, produtos médicos tem ISO 13485, que é baseada na 9001, mas tem aspectos específicos da parte médica. Ela se mantém viva, pois é a base de todas, então, não vai entrar em desuso nunca, o que vai acontecer é que muitos setores complementam ela, até a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro), colocam normativas que se baseiam na 9001, pois como é uma norma internacional facilita muito.
APCER – Por que o principal pilar da ISO 9001 é o foco no cliente?
Antônio Lino – Porque é uma norma de qualidade, está ligada a produtos e serviços que a gente oferece para o cliente. Começou com foco total no cliente e na melhoria contínua, mas com o passar do tempo, foi entrando com as outras partes interessadas também, como a parte de fornecedores, de colaboradores internos, a parte toda externa da empresa e até dos acionistas. O foco dela ainda continua no cliente, pois a qualidade tem muito a ver com produto. As normas de segurança, por exemplo, têm um foco muito maior no colaborador, as normas de meio ambiente tem um foco na comodidade, são focos complementares.
Fonte: Assessoria de imprensa da APCER