Herbet falou sobre eficiência energética e da relação do Sistema de Gestão de Energia com fontes limpas de energia.
A norma ISO 50001, Sistema de Gestão de Energia, permite a redução de custos e consumo energético dentro de organizações, sem impactar na diminuição da produção, promovendo maior eficiência energética, além de incentivar a utilização de fontes de energia alternativas e renováveis.
A ISO 50001 é reconhecida internacionalmente, e torna possível evoluir os resultados mesmo que já sejam positivos, utilizando a metodologia Plan, Do, Check, Act (PDCA) – planejar, fazer, checar e agir – que instaura um processo de melhoria contínua, sem estabelecer quaisquer exigências de desempenho energético.
Para falar mais sobre o assunto, a APCER Brasil conversou com o mestre em física e presidente da Associação Brasileira das Empresas de Serviços de Conservação de Energia (ABESCO), Bruno Herbert.
Leia a entrevista na íntegra:
APCER Brasil – O Brasil se apresentou na COP 27 como um país de fonte de energia renovável para atrair investimentos externos nessa área. Como é possível avaliar esse posicionamento?
Bruno Herbert – O Brasil possui uma matriz energética com forte presença de energia renovável. No segundo semestre do ano passado, o Ministério de Minas e Energia publicou a Resenha Energética Brasileira 2022, na qual aponta que as energias renováveis são responsáveis por 44,7% da Oferta Interna de Energia (OIE).
De posse desses números, que são três vezes maiores que o índice médio mundial e quatro vezes maior que os dos países da OCDE, o Brasil apresentou em Sharm El Sheikh, Egito, alguns programas para avançar neste quesito. Entre eles destaca-se o Programa Hidrogênio Verde que tem por objetivo desenvolver o potencial do Brasil para produzir e exportar hidrogênio verde, uma fonte de energia limpa e renovável, por meio da utilização das energias solar, eólica e biomassa. Além deste programa, o Brasil apresentou o nosso potencial para o aproveitamento da região offshore brasileira com a implantação de parques eólicos que poderiam gerar até 700 GW de energia. Hoje, o Brasil é o sexto país na produção de energia eólica com 22 GW de potência instalada.
APCER Brasil – A fonte de energia mais utilizada no Brasil é a hidrelétrica, que é renovável. Porém, em tempos de crise hídrica, o Governo recorre a usinas termelétricas, por exemplo, mais caras e poluentes. O que impede o Brasil de se tornar potência em energia limpa?
Bruno Herbert – O Brasil já é considerado uma potência em energia limpa em âmbito mundial, todavia existem alguns desafios que precisam ser superados. O primeiro deles é que nossa sociedade precisa entender e absorver o conceito da eficiência energética. Não adianta investirmos em fontes de energia renovável se, em paralelo a isto, não pensarmos em maneiras inteligentes de usarmos menos a energia que já existe sem perdemos o conforto ou a realização do trabalho que essa energia pode realizar.
De 2021 para 2022 houve uma redução entre 3% e 4% da participação da energia renovável na matriz nacional devido à escassez hídrica e redução da produção do Etanol. Realmente estamos muito dependentes de como o clima atua no nosso país.
As fontes renováveis possuem muitos desafios que precisam ser superados, entre eles podemos citar: investimento elevado, infraestrutura deficiente, regulação complexa, conscientização da população insuficiente e fontes de financiamento a juros baixos para alavancar o mercado.
APCER Brasil – Como uma norma feito a ISO 50001 pode auxiliar as organizações a serem adeptas de fontes de energia alternativas/limpas?
Bruno Herbert – A ISO 50001 é uma norma internacional que estabelece os requisitos para um Sistema de Gestão de Energia (SGE) e tem como objetivo ajudar as empresas a melhorarem como a energia é utilizada na mesma e leva em consideração a sua origem.
Como efeito prático, ajuda a reduzir os custos e as emissões de gases de efeito estufa.
A norma se baseia no ciclo PDCA (Plan-Do-Check-Act) de melhoria contínua e está tendo uma adesão enorme no mercado quando comparada a outros sistemas de gestão como a ISO 9001 e a ISO 14001.
A ISO 50001 incentiva fortemente a eficiência energética e o consumo de energia que possam reduzir o impacto ambiental e a dependência de combustíveis fósseis, portanto, o uso das energias renováveis se encaixa nos conceitos e diretrizes da norma.
APCER Brasil – Empresas com a certificação ISO 50001 podem ser menos poluentes?
Bruno Herbert – Embora um sistema de gestão de energia possa não ter uma correlação direta com o nível de poluição de uma organização, a existência do mesmo vai promover o recurso a fontes de energia amigas do ambiente, resultando assim na diminuição do nível de poluição, por exemplo, uma empresa de transportes que opte por utilizar energia elétrica para a sua frota vai diminuir a emissão de gases com efeito de estufa (ex. dióxido de carbono).
APCER Brasil – Quais são os estados brasileiros mais adeptos de fontes limpas de energia?
Bruno Herbert – Vários estados do nordeste possuem um alto nível de percentual de energia renovável em sua matriz. O Rio Grande do Norte se destaca com 85% da sua matriz energética a base de energia eólica e solar.
APCER Brasil – Como o Governo Federal pode incentivar a utilização de energias limpas e renováveis?
Bruno Herbert – Por meio de linhas de financiamento específicas nos bancos estatais para o setor, além de uma regulação mais simplificada para que a sociedade civil possa optar facilmente por adquirir a energia da fonte que desejar (Energia Verde).
Os projetos de eficiência energética precisam ser prioridade em uma política de Estado, pois não utilizar é melhor do que gerar, de forma que os equipamentos para este fim pudessem ter seus impostos reduzidos a fim de proporcionar um avanço da utilização dos mesmos por parte da população. Com esta medida, os investimentos em geração nas termelétricas e na distribuição da energia seriam evitados, tornando a energia mais barata para o consumidor.
Fonte: Assessoria de imprensa da APCER Brasil