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04 Out 2022

Certificação FSC® - A importância do consumo sustentável | Entrevista com Daniela Vilela, Diretora-executiva do FSC Brasil

Ao promover o manejo florestal responsável, a certificação FSC torna-se uma poderosa ferramenta econômica de desenvolvimento sustentável e gestão ambiental que combate o desmatamento”.

O FSC® é uma organização independente e sem fins lucrativos, que criou o sistema de certificação florestal de maior credibilidade internacional, com o objetivo de uma gestão ambientalmente apropriada.

Uma certificação FSC® impede o desmatamento ilegal das florestas, e mais que a garantia do cumprimento de toda legislação em vigência por parte da própria organização, uma marca que leva este selo não possui parceiros que atuam ilegalmente em sua cadeia de custódia.

Para tratar sobre o assunto, a APCER conversou com a diretora-executiva do FSC Brasil, Daniela Vilela, engenheira ambiental com especialização em Sistemas de Gestão da Qualidade. Antes de assumir a diretoria, foi coordenadora técnica por três anos do FSC Brasil.

Leia a entrevista na íntegra:

APCER Brasil – Como é a adesão do FSC® no Brasil?

Daniela Vilela – Qualquer empreendimento ligado a operações de manejo florestal e quaisquer produtos florestais podem ser certificados. Na modalidade de manejo florestal, estão as empresas ou organizações que manejam florestas de maneira responsável para obter os produtos madeireiros, não madeireiros ou visando apenas a conservação da floresta. Já a certificação de cadeia de custódia se aplica aos empreendimentos envolvidos no processamento e/ou na comercialização de produtos que utilizem insumos florestais madeireiros ou não madeireiros certificados. Aqui entram serrarias, movelarias, designers, lojas varejistas, gráficas, indústrias de papel e celulose, toras, painéis e pisos de madeira para construção, cortiça, óleos, produtos cosméticos, embalagens, alimentos como açaí, erva-mate, castanha e mel. Enfim, tudo o que a floresta pode prover é passível de certificação.

Atualmente, o Brasil tem mais de 8 milhões de hectares certificados, incluindo florestas nativas e plantadas, e cerca de 1200 certificados de cadeia de custódia.

Percebemos que, nos últimos 10 anos, principalmente, houve um aumento da área total certificada de 24%, enquanto o número de certificados avançou 84%, o que indica uma maior adesão ao FSC por áreas menores. Outra tendência é a diversificação, com mais certificados para produtos não madeireiros, subprodutos da madeira e serviços ecossistêmicos.

APCER Brasil – Uma organização que investe nas certificações FSC® reduz custos? Como isso acontece?

Daniela Vilela – Não necessariamente, mas acontece. Isso porque a certificação pode melhorar a gestão da operação e aumentar a produtividade. Ou seja, também ajuda a aprimorar a gestão das documentações pertinentes, o planejamento das atividades, a elaboração dos planos de manejo de acordo com a realidade local, a elaboração de procedimentos e protocolos internos, entre outros pontos.

APCER Brasil – Como as certificações FSC® agem na redução do desmatamento?

Daniela Vilela – Para acabar com o desmatamento é preciso valorizar a floresta em pé. Enquanto o solo tiver mais valor, árvores serão derrubadas. Justamente por isso, o manejo florestal responsável, que respeita o ciclo natural das florestas, mas permite que os recursos naturais sejam explorados e que as populações locais tenham novas fontes de renda, é uma das principais formas de combatê-lo.

Ao promover o manejo florestal responsável, a certificação FSC torna-se uma poderosa ferramenta econômica de desenvolvimento sustentável e gestão ambiental que combate o desmatamento, contribui para o uso responsável dos recursos florestais, promove a manutenção ou a melhoria dos serviços ecossistêmicos, ajuda na conservação e regeneração das florestas naturais e da vida silvestre, respeita o bem-estar, a dignidade e os direitos dos trabalhadores, das comunidades locais e dos povos indígenas e agrega grande valor socioambiental aos produtos certificados.

APCER Brasil – Os consumidores brasileiros preferem produtos com o selo FSC®?

Daniela Vilela – Sentimos uma pressão positiva de importadores e consumidores conscientes por produtos mais sustentáveis, inclusive aqui no Brasil. A implementação cada vez mais difundida dos conceitos ESG nas empresas também amplia a adoção e a criação de melhores práticas produtivas no país. O consumidor, pessoa física ou jurídica, está muito mais informado e mais ativo, com mais voz.
Em 2017, o FSC fez uma pesquisa global sobre hábitos de consumo que revelou que o brasileiro estava entre os mais dispostos a colocar a mão no bolso e pagar mais caro por produtos florestais certificados. Muita coisa mudou de lá para cá, inclusive por causa da recente pandemia de Covid-19, mas a ideia é que quanto mais as práticas ESG se espalharem e as pessoas se tornarem mais conscientes na hora de comprar, valorizando quem faz direito, a oferta de produtos certificados aumente e os preços se equilibrem. E, claro, o desmatamento e a ilegalidade deixem de valer a pena.

APCER Brasil – Quais projetos novos estão sendo trabalhados pelo FSC®? Algum específico para o Brasil?

Daniela Vilela – Um dos projetos que podemos mencionar, em desenvolvimento pelo FSC, é o uso da tecnologia Blockchain para registrar as transações de produtos certificados, aumentando assim a rastreabilidade e a segurança da informação.

Também houve, recentemente, a publicação do Procedimento de Melhoria Contínua, que permite uma abordagem mais flexível para que pequenos produtores e comunidades possam se certificar sem ter um manejo responsável perfeito em vigor. Basta ter iniciado e implementado medidas cruciais e se comprometer a continuar o caminho da sustentabilidade com o FSC, melhorando as práticas de manejo florestal passo a passo e se adequar a todos os requisitos do padrão FSC em cinco anos. Isso permite que esses pequenos produtores e comunitários acessem os benefícios do mercado utilizando o selo FSC para suportar ainda mais seus custos de certificação. Também ajuda a deixar claro quais são os próximos passos para obter a certificação completa. Esse procedimento tem grande potencial para o Brasil, e nos ajudará a ampliar ainda mais os impactos positivos que pequenos e comunitários têm em seus territórios.

Outro projeto interessante é o de uso de tecnologias de identificação de madeira, como isótopos, DNA e espectrometria de massa, para ajudar a determinar a origem de amostras de madeira específicas. O FSC desenvolveu um plano de longo prazo para abordar sistematicamente os riscos de integridade nas cadeias de suprimentos de seus detentores de certificados. E as tecnologias de identificação da madeira são usadas como parte desse plano para determinar as espécies e a origem do local de colheita. O FSC Brasil, inclusive, está participando desse projeto com a coleta de amostras em áreas certificadas.

APCER Brasil – Quais requisitos as certificações FSC® estabelecem para um manejo florestal ecologicamente correto, socialmente justo e economicamente viável?

Daniela Vilela – Os princípios do FSC são os elementos essenciais para balizar as regras do manejo florestal ambientalmente adequado, socialmente benéfico e economicamente viável. E são eles: cumprimento das leis, direitos dos trabalhadores e condições de trabalho, direito dos povos indígenas, relações com a comunidade, benefícios da floresta, valores e impactos ambientais, planejamento do manejo, monitoramento e avaliação, altos valores de conservação e implementação das atividades de manejo.

APCER Brasil – Como é o trabalho do FSC® no auxílio de proteção das terras indígenas?

Daniela Vilela – Os povos indígenas têm muito que nos ensinar sobre uma relação harmoniosa entre o homem e a natureza, e seus territórios precisam ser vistos como fornecedores de soluções inovadoras para desafios globais, como as mudanças climáticas e a exploração predatória dos recursos naturais. Desde sua criação, o FSC dá voz a eles e, em 2019, criou a Fundação Indígena, que hoje é presidida, inclusive, por um brasileiro.

A certificação ajuda o sustento dos povos indígenas por meio do manejo responsável de produtos não madeireiros e permite que seu modo de vida, que naturalmente promove a conservação ambiental, seja mantido.

Em Cacoal, Rondônia, temos o exemplo do território indígena “Sete de Setembro”, lar do povo indígena Paiter Suruí. Em 2016, a Associação Soenama, que reúne as tribos Iratana e Mauíra, conquistou a certificação FSC em manejo florestal e cadeia de custódia para uma área de 91 hectares, onde são produzidos babaçu e castanha in natura. Pouco tempo depois, foi a vez da Associação Metareilá, que representa as aldeias Tikã, Lapetanha, Joaquim e Apoena Meireles, que obteve a certificação de quase 500 hectares. Hoje, eles produzem mais de 40 toneladas de castanha certificada.

APCER Brasil – O selo e certificações FSC® facilitam o acesso ao mercado internacional?

Daniela Vilela – Com certeza. Em alguns casos, o selo pode ser uma exigência e, muitas vezes, funciona como um atestado, diminuindo os riscos do comprador. Afinal, quem importa produtos oriundos da ilegalidade e do desmatamento, pode, inclusive, ser considerado corresponsável.

Em setembro, o Parlamento Europeu aprovou uma nova lei anti-desmatamento para a União Europeia (UE), com o objetivo de controlar a entrada de produtos ligados à destruição de florestas e violações dos direitos humanos em áreas de floresta ao redor do mundo.

Uma das medidas estipuladas na nova lei é a necessidade de rastreabilidade dos produtos da fonte até o destino, que é exatamente o que o FSC faz.

APCER Brasil – Com as certificações FSC®, há incentivo de reflorestamentos?

Daniela Vilela – Sim, além do atendimento legal que já traz essa necessidade, as normas FSC determinam que as organizações certificadas identifiquem e mantenham remanescentes de vegetação nativa existentes na área, e promovam ações de restauração e/ou recuperação quando aplicável.

É importante destacar que se for reflorestamento no sentido de plantios de exóticas, a resposta é mais complicada, porém direta, pois o FSC não incentiva o reflorestamento nesse sentido.

APCER Brasil – Como os requisitos estipulados pelas certificações FSC® ajudam na redução de gases de efeito estufa (GEE)?

Daniela Vilela – A contribuição do manejo florestal responsável nos esforços para combater e mitigar as mudanças climáticas é bastante significativo. As florestas desempenham um papel essencial na regulação do clima. Junto com os oceanos, são os principais ecossistemas que o planeta usa para remover o dióxido de carbono (CO²) da atmosfera. Quase 2,6 bilhões de toneladas, ou um terço de todo o CO² liberado de combustíveis fósseis, são absorvidos pelas florestas todos os anos. O Acordo de Paris, inclusive, convocou todos os países a conservar sumidouros de carbono nas florestas.

O fato de uma árvore de madeira de lei média poder armazenar até 21 quilos de CO² todos os anos, revela o papel essencial das florestas na estabilização do clima. Interromper a perda e a degradação de sistemas naturais e promover sua restauração são ações fundamentais diante da urgência mundial climática.

Justamente por isso, o FSC desenvolveu declarações de serviços ecossistêmicos específicos. Demonstrar o valor dos ecossistemas florestais, medindo o impacto de práticas responsáveis de manejo florestal e promovendo parcerias que as recompensem, é muito importante para a ação climática e a sustentabilidade. As declarações de serviços ecossistêmicos fornecem informações baseadas na natureza por meio da medição de impactos positivos no sequestro e armazenamento de carbono, entre outras coisas.

O FSC acredita que o manejo florestal responsável é uma forma de manter as florestas saudáveis e resilientes, sustentando a vida na Terra.

APCER Brasil – A recente regulamentação do mercado de carbono brasileiro pode aumentar a procura pelas certificações FSC®?

Daniela Vilela – O procedimento de serviços ecossistêmicos do FSC, criado em 2018, visa facilitar o acesso a esses mercados de pagamentos por serviços ambientais, fornecendo aos proprietários florestais, sejam eles pequenos produtores e comunidades ou grandes empresas, ferramentas para medir, verificar e comunicar seus impactos positivos no sequestro de carbono, na conservação da biodiversidade, recursos hídricos e do solo, por exemplo.

Nesse sentido, além do já conhecido mercado de crédito de carbono, quem comprovar esses impactos poderá ter mais fácil acesso a investimentos e subsídios, agregar valor à sua imagem e, consequentemente, às suas atividades produtivas. Tudo isso com a “chancela” do FSC.

O procedimento não é um crédito, então, em tese, não há uma ligação direta, mas a expectativa é de que investidores deste mercado passem a ver o FSC como uma ferramenta que vai ajudar a “garantir” a área geradora dos créditos por mais tempo.

  

Daniela Vilela
Diretora-executiva do FSC Brasil

 

Daniela Vilela III

 

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