Responsável pelos eventos Rock in Rio em Lisboa e Madrid, Roberta Medina fala sobre parceria com a APCER para a certificação de eventos e sua contribuição para o meio ambiente e a sustentabilidade global.
O maior evento de música e entretenimento do mundo, Rock in Rio, é certificado pela APCER com a ISO 20121, norma voltada a sustentabilidade de eventos. O regulamento fornece uma estrutura técnica para identificar, reduzir e eliminar os impactos potencialmente negativos de eventos de todos os tipos, nas esferas ambiental, social e econômica, como geração de grandes volumes de resíduos, desperdício de materiais, consumo excessivo de recursos (água e energia) e problemas para as comunidades envolvidas.
Sua função também é voltada para maximizar os impactos positivos desses eventos, como a geração de uma ampla gama de benefícios públicos, comunitários e econômicos, por meio de um melhor planejamento e processos melhorados. É aplicado a todos os integrantes da cadeia de fornecimento da indústria de eventos, incluindo organizadores, gestores de eventos, construtores de stands e operadores logísticos.
O Rock in Rio é pioneiro na preocupação com meio ambiente e, em 2006, iniciou o trabalho de redução de emissões de gases de efeito estufa (GEE) na atmosfera. Em 2013, passou a ser certificada pela APCER. “Hoje, estamos muito mais estruturados e o registo dos processos está mais facilitado graças a todo o trabalho desenvolvido nesta parceria”, informa Roberta Medina, responsável pela realização do evento em Lisboa e Madrid.
Roberta descobriu sua paixão por eventos muito nova, e relata ter sido muito teimosa e persistente para manter seus valores quando começou a coordenar projetos na empresa familiar. Em entrevista à APCER, ela falou sobre a importância da certificação ISO 20121 e a preocupação social/ambiental do Rock in Rio. Confira:
APCER – A parceria do Rock in Rio com a APCER já dura 8 anos. Nesse tempo, quais foram os benefícios que este processo de certificação trouxe para o evento?
Roberta Medina – A APCER tem sido a parceira de certificação do Rock in Rio na norma 20121 - Eventos Sustentáveis, e esta parceria tem feito evoluir os nossos processos internos. Hoje, estamos muito mais estruturados e o registo dos processos está mais facilitado graças a todo o trabalho desenvolvido nesta parceria.
APCER – Por que a APCER foi escolhida para certificar o Rock in Rio com a norma ISO 20121?
Roberta Medina – A APCER já era conhecida pela equipe do Rock in Rio pela credibilidade na certificação de Sistemas de Gestão. Para nós esta garantia foi fundamental para avançarmos para este processo.
APCER – A norma ISO 20121, Sistema de Gestão Para a Sustentabilidade de Eventos, foi desenvolvida com o objetivo de apoiar os integrantes da cadeia de fornecimento da indústria de eventos de todos os tipos, e é com base nela que a APCER certifica o Rock In Rio. Qual a importância dessa certificação para o meio-ambiente?
Roberta Medina – Desde 2006 que o Rock in Rio trabalha os temas ambientais de forma estratégica, sendo um evento neutro em carbono há já 15 anos. A norma veio reforçar a importância do engajamento de toda a cadeia produtiva, além de ser uma ferramenta que hoje nos permite estar em maior alinhamento interno e com os parceiros no que diz respeito à nossa política de sustentabilidade, onde se incluem as medidas ambientais que implementamos.
APCER – Mais que a contribuição sustentável ao meio ambiente, há benefícios financeiros?
Roberta Medina – A economia de tempo conseguida com o estabelecimento, reorganização e identificação de processos, acaba por ter impactos financeiros pois nos permite poupar tempo e recursos.
APCER – Como começou a preocupação do Rock In Rio em relação ao meio ambiente?
Roberta Medina – Em 2006, começámos a ser impactados pelo tema das alterações climáticas. A nossa responsabilidade como marca internacional era tão clara que decidimos imediatamente compensar as emissões do festival. A partir daí foi um caminho sem volta, de grande aprendizado e que mudou a forma de fazermos o festival no que cabe a processos, construção, comportamentos e a cada edição avaliamos nossos resultados e adotamos medidas cada vez mais exigentes.
APCER – Qual a importância que você visualiza da certificação baseada na ISO 20121 para os eventos num geral?
Roberta Medina – O mercado dos eventos é tipicamente um mercado informal e a norma ajuda a criar estrutura e organização nos processos, algo que não é comum encontrarmos nesta indústria. No caso do Rock in Rio, que já vinha implementando boas práticas de sustentabilidade há muitos anos, a certificação da norma veio tornar a sustentabilidade um compromisso de toda a empresa, onde todos temos que seguir os mesmos procedimentos.
APCER – Quais foram as primeiras atitudes tomadas pelo evento a favor da sustentabilidade e quais ações são feitas nos dias de hoje?
Roberta Medina – Acreditamos que a sustentabilidade nasceu no Rock in Rio logo na primeira edição, em 1985, uma vez que o festival nasce no fim de uma ditadura militar, para dar esperança a uma juventude, mostrando que é possível um futuro melhor ao mesmo tempo que enaltece a potencialidade do Rio de Janeiro para acolher eventos de grande porte, tendo na altura contribuído para o aumento de 180% da indústria fonográfica nacional. Mais tarde, em 2001, nasceu o projeto POR UM MUNDO MELHOR, que veio dar cara a este sentido de responsabilidade que temos, em gerir nossos impactos e retribuir para a comunidade. Foi aí que começamos a jornada que seguimos até hoje, com a construção de 100 salas de aula que permitiram a 3.200 jovens concluir o ensino fundamental. Esse ano, definimos metas para 2030, ambiciosas e alinhadas com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU, que passam por ações como 0% de resíduo em aterro; zero desperdício alimentar; 100% plural, inclusivo e acessível; 100% de segurança e bem-estar para todos; envolvimento de todos os parceiros na nossa política de sustentabilidade; e formação de 100 mil pessoas. Além disso, há todo um conjunto de outras iniciativas descritas no nosso plano de sustentabilidade que passam por outras áreas como energia, pegada carbónica e mais.
APCER – Sendo o Rock in Rio um evento que já foi realizado em quatro países, qual a intensidade da influência das ações de sustentabilidade ambiental realizadas para o mundo?
Roberta Medina – Com 20 anos de experiência em ações concretas sociais e ambientais, estamos neste momento prestes a publicar uma cartilha para eventos sustentáveis, de forma que possamos partilhar de forma prática nossos aprendizados e colaborar com outros eventos que tenham a mesma ambição - de serem o mais sustentável possível. Muitas das vezes aplicamos medidas mais exigentes do que as definidas pelas entidades governamentais, e isso só é possível por todo o know-how que acumulamos ao longo dos anos em cada um dos países por onde passamos, onde cada um tem a sua caraterística e a sua cultura. Estamos prontos e disponíveis para passar essa experiência adiante. E, em parceria com a Delloite, fizemos uma avaliação ESG do festival, mais uma iniciativa para aprendermos e evoluirmos, mas também para incentivar o mercado a avançar mais rápido no compromisso com a sustentabilidade e com a responsabilidade que cada um de nós tem.
APCER – É possível afirmar que o Rock in Rio é um evento neutralizado de emissões de gás carbônico?
Roberta Medina – Sim, desde 2006. Há 15 anos que somos neutros em carbono e continuamos a apostar em projetos de compensação espalhados pelo mundo, com critérios ambientais e sociais, onde investimos em tecnologias limpas e em reflorestamento da floresta ardida.
APCER – Como funcionam os projetos sociais do Rock in Rio? Quais são aqueles voltados à sustentabilidade?
Roberta Medina – Na nossa visão de mundo melhor, existe uma conexão direta e verdadeira entre os três pilares da sustentabilidade – ambiental, social e económico. Tudo o que fazemos no Rock in Rio, e todos os projetos em que investimos, têm que ter impacto em todos esses eixos, ou seja, um projeto de rariz mais ambiental terá também impacto social e económico. Exemplo disso é o projeto socioambiental Amazônia Live, um projeto ambicioso focado na reflorestação da Amazónia no qual o Rock in Rio investiu na plantação de 1 milhão de árvores nas margens do rio Xingu. Estas árvores são nativas e as suas sementes foram coletadas por comunidades indígenas, de quem essas mesmas sementes foram compradas. E por isso, além do objetivo de reflorestar a Amazônia, conseguimos também contribuir para a economia local e para a limpeza do rio Xingu, e consequentemente para a qualidade da água e peixes consumidos por estar comunidades. No final do projeto chegamos a 3.3 milhões de árvores, por meio de donativos de parceiros e do público, o que triplicou os impactos iniciais do projeto. Agora estamos entrando em outra fase, passar de “fazer por um mundo melhor” para “ser por um mundo melhor”.
APCER – O que diria ao segmento de eventos sobre a importância de basear suas ações em pró da preservação do planeta em que vivemos?
Roberta Medina – Acho que não só em prol da preservação do planeta, mas da nossa própria espécie e da nossa qualidade de vida. Não podemos apenas nos preocuparmos com as questões ambientais. Há que apostar também em iniciativas que contribuam para o desenvolvimento da economia local, para a qualidade de vida das comunidades nossas vizinhas. Como meu avô já dizia, “só estaremos bem se o outro estiver bem”, caso contrário, em algum momento, nos virá bater à porta as fragilidades do outro.